O Jardim de Epicuro e o Deserto das Redes Sociais
Epicuro, no século IV a.C., propôs uma visão de felicidade que permanece atual. Ele não a associava ao luxo, ao poder ou ao acúmulo, mas ao cultivo dos prazeres simples: a amizade, a tranquilidade da mente e a liberdade diante de desejos que nunca se satisfazem. Seu “Jardim” não era apenas físico, mas um espaço simbólico de escolhas conscientes, um refúgio diante da ilusão da grandeza.
Avançando para o nosso tempo, vivemos a era da abundância conectada. Temos mais acesso à informação, mais interações e mais possibilidades de exposição do que qualquer geração anterior. No entanto, a sensação predominante é de vazio. As redes sociais se tornaram um deserto: um lugar onde todos procuram felicidade em curtidas, seguidores e métricas que nunca são suficientes. Oásis que parecem promissores à distância, mas se dissolvem quando chegamos perto.
A contradição é clara: buscamos plenitude em territórios que só nos devolvem escassez. Quanto mais dependemos da validação digital, mais nos afastamos da profundidade das relações humanas e da serenidade interior. Criamos uma abundância quantitativa que esconde uma pobreza qualitativa. O deserto cresce na mesma medida em que abandonamos nossos jardins.
Para os negócios, essa reflexão é crucial. Empresas que tentam construir valor apenas em métricas de vaidade, sem propósito real, acabam caindo na mesma armadilha. Crescem em seguidores, mas não em relevância. Ampliam alcance, mas não criam vínculos. No fundo, são como viajantes que acumulam quilômetros no deserto sem jamais encontrar água.
A provocação de Epicuro, aplicada ao presente, é um convite a redirecionar o olhar. Não se trata de negar a tecnologia ou as redes sociais, mas de reconhecer que a felicidade, pessoal e corporativa, não nasce da ostentação, mas da essência. Não está em colecionar números, mas em cultivar significado.
Talvez o maior desafio do nosso tempo seja esse: resgatar o Jardim dentro de nós e das organizações. Criar espaços de profundidade em meio ao ruído, de vínculo em meio ao espetáculo, de essência em meio à superfície. Só assim deixaremos de nos perder no deserto das redes e poderemos florescer onde importa de verdade.