Do Bolso para o Rosto: a troca dos smartphones pelos óculos começou?
Pense comigo: quantas vezes por dia você tira o celular do bolso apenas para olhar uma notificação, responder uma mensagem rápida ou seguir uma rota? E se todas essas interações pudessem acontecer sem que você precisasse desviar os olhos do mundo ao seu redor? Essa é a provocação que Mark Zuckerberg trouxe no Meta Connect 2025, ao apresentar a nova geração de óculos inteligentes da empresa. Mais do que um acessório tecnológico, eles são um manifesto: talvez estejamos entrando no início do fim da era do smartphone.
Os novos Meta Ray-Ban Display não são apenas óculos com câmera. Eles trazem um display embutido, som de alta qualidade, assistente de IA e integração com aplicativos como Instagram e WhatsApp. Mas o detalhe mais surpreendente é a pulseira chamada Neural Band, capaz de captar sinais elétricos entre o cérebro e os músculos da mão, permitindo que gestos sutis substituam o ato de digitar numa tela. É como se o corpo se tornasse a interface natural, liberando as mãos e os olhos para uma experiência mais fluida e imersiva.
Zuckerberg fala em “presença”, a ideia de que a tecnologia deve nos conectar sem nos distrair do que está diante de nós. Em vez de baixar a cabeça e mergulhar em um retângulo de vidro, poderíamos manter os olhos erguidos, atentos ao ambiente, mas com acesso constante ao digital. É uma promessa ambiciosa, que combina fascínio e desconfiança. De um lado, há quem veja a possibilidade de finalmente superar a dependência do celular. De outro, surgem os questionamentos inevitáveis sobre privacidade, conforto e viabilidade prática.
A pergunta que fica é: a substituição já começou? De certa forma, sim. Milhões de pessoas já testaram gerações anteriores desses óculos, smartwatches se tornaram comuns e fones inteligentes ocupam cada vez mais espaço na rotina. Estamos sendo treinados, aos poucos, para aceitar interfaces vestíveis que diminuem a centralidade do smartphone. Ao mesmo tempo, os desafios são enormes: câmeras em óculos despertam preocupação, baterias ainda são limitadas, preços continuam altos e, principalmente, o hábito de tirar o celular do bolso segue profundamente enraizado.
Talvez ainda não estejamos prontos para abandonar o iPhone, mas a sensação é de que já estamos ensaiando a despedida. Assim como o discman parecia insubstituível até o dia em que o iPod chegou, pode ser que um futuro próximo olhe para os smartphones com a mesma nostalgia. O processo de substituição não será abrupto, mas incremental, acontecendo na medida em que a tecnologia se tornar prática, elegante e acessível.
A grande questão é: em quanto tempo essa transição vai se consolidar? Cinco, dez ou quinze anos? Talvez menos do que imaginamos. O certo é que a corrida já começou, e o próximo capítulo da revolução digital pode não caber mais no bolso, mas sim no rosto.