Gato e Rato. A disputa entre EUA e China pelos chips da Nvidia.
Durante anos, a lógica foi simples: quem tem tecnologia vende, quem precisa compra. No mundo dos chips avançados, essa regra deixou de valer. A relação entre Estados Unidos e China em torno dos processadores da Nvidia virou um jogo de gato e rato, em que o papel de comprador e vendedor muda conforme o vento político sopra. Houve um momento em que empresas americanas queriam vender, mas a China não podia comprar. Agora, o cenário se inverte: a China quer comprar, mas os EUA não querem deixar vender.
O caso do chip H200 é emblemático. A demanda chinesa por poder computacional explodiu com a corrida por IA, data centers e modelos fundacionais. A Nvidia, pressionada por resultados e crescimento, avalia aumentar a produção para atender esse mercado. Do outro lado, Washington aperta o cerco regulatório, tratando cada chip como se fosse um ativo estratégico, quase um míssil silencioso.
Esse movimento revela algo maior: chips deixaram de ser apenas componentes eletrônicos. Eles se tornaram infraestrutura crítica, base da soberania digital, do avanço militar, da competitividade industrial e da liderança econômica. Controlar o fluxo de semicondutores hoje é tão relevante quanto controlar petróleo foi no século XX. Não por acaso, exportação de chips virou política de Estado, e não mais decisão puramente comercial.
No fim, ninguém joga sozinho. Quando um país bloqueia, o outro acelera alternativas locais. Quando um quer vender, o outro desconfia. O resultado é um mundo mais fragmentado, caro e menos eficiente, onde inovação anda de mãos dadas com geopolítica. A era do chip neutro acabou. Entramos definitivamente na era do chip soberano.



