O Fim da Solidez: empresas que escorrem pelos dedos
Vivemos um tempo em que nada parece se sustentar por muito tempo. Modelos de negócio que ontem eram sólidos, hoje se desfazem como areia molhada entre as mãos. A estabilidade virou miragem. A solidez, um mito. Estamos na era das empresas líquidas, que fluem rápido demais, muitas vezes sem direção, e que escorrem pelos dedos antes mesmo de nos darmos conta de que existiram.
Esse cenário alimenta um FOMO coletivo. O medo de perder a próxima onda, o próximo “unicórnio”, o próximo IPO relâmpago. Líderes e investidores correm como se estivessem em uma maratona interminável: não para alcançar a linha de chegada, mas para não ficarem para trás. A agenda é ditada pela urgência, não pela consistência. É a lógica do agora, porque amanhã pode ser tarde demais.
Mas o que parece FOMO também é, na verdade, FOME. Uma fome insaciável por resultados, crescimento, atenção, relevância. Empresas se alimentam do capital e das expectativas como se fossem combustíveis que nunca vão faltar. Só que, na pressa de engolir o mundo, muitas se esquecem de construir alicerces. O apetite é voraz, mas a digestão é frágil. E nesse desequilíbrio, surgem organizações infladas, mas ocas.
A provocação que fica é simples: até quando? Até quando vamos celebrar empresas que crescem como labaredas e se apagam no primeiro vento contrário? Até quando o medo de ficar de fora vai se sobrepor à disciplina de construir para durar? Talvez estejamos confundindo liquidez com fluidez, velocidade com visão. O fim da solidez não é só sobre empresas - é sobre nós, sobre a forma como escolhemos viver, investir e acreditar.