O carro que a Apple nunca fez, a China já colocou na rua
Enquanto a Apple passou mais de uma década tentando emplacar um projeto automotivo que nunca saiu do papel, gigantes chinesas como Xiaomi e Huawei já colocaram veículos elétricos nas ruas e conquistaram espaço num dos mercados mais disputados do mundo. A diferença não está apenas na engenharia, mas no ecossistema em que cada empresa está inserida e na forma como compreenderam a transição da indústria automotiva para a era da tecnologia.
A Apple apostou em um modelo fechado, dependente de avanços disruptivos que nunca se materializaram, como direção totalmente autônoma e um design revolucionário que justificasse sua entrada tardia no setor. Com a obsessão pelo “grande salto”, perdeu tempo em negociações com fornecedores, recuou diante de margens mais baixas que o mercado de smartphones e se viu presa ao dilema de competir em uma indústria com características muito diferentes do consumo digital. O resultado foi um projeto abandonado, depois de anos de rumores e bilhões investidos sem retorno.
Já Xiaomi e Huawei aproveitaram o contexto favorável da China, onde o governo subsidia veículos elétricos, as cadeias de fornecimento são locais e altamente integradas, e o consumidor está acostumado a adotar rapidamente novas marcas. A Huawei, que sofreu restrições no mercado global de smartphones, viu nos carros uma oportunidade de usar sua expertise em chips, conectividade 5G e sistemas operacionais para se reposicionar. Tornou-se fornecedora de tecnologia para diversas montadoras e também lançou modelos próprios, como o Luxeed e o Aito, que já figuram entre os mais vendidos.
A Xiaomi, por sua vez, seguiu sua vocação de ecossistema acessível: projetou o SU7 como um “smartphone sobre rodas”, com preço agressivo, integração total ao seu portfólio de dispositivos e uma experiência digital que fala diretamente ao seu público.
Em resumo, enquanto a Apple tentou reinventar o carro e falhou, as chinesas entenderam que o automóvel é a nova plataforma de tecnologia, um espaço para aplicar software, IA, conectividade e dados. Não buscaram criar uma revolução de uma vez só, mas sim integrar-se ao que já existe, conquistando mercado passo a passo, alavancadas por um ambiente favorável e uma estratégia de adaptação. É esse pragmatismo, aliado à força de suas cadeias produtivas, que explica por que Xiaomi e Huawei prosperam naquilo que a Apple, mesmo com todo seu prestígio, não conseguiu realizar.