Nike na Corrida, Alphabet Apostando em Energia Limpa, Alexa Entra na Disputa da IA e a Visão de Longo Prazo da Nestlé
Bom dia! Hoje é 24 de dezembro. Neste mesmo dia, em 1906, era realizada a primeira transmissão de rádio da história por Reginald Fessenden, um marco que inaugurou a era da comunicação de massa sem fio.
Mais de um século depois, ondas eletromagnéticas sustentam desde redes 5G até satélites de internet, e a disputa agora é por quem controlará os próximos canais de conexão global.
Nike acelera no mercado de corridas
A Nike anunciou que será a patrocinadora oficial da SP City Marathon a partir de 2025, - uma das maiores e mais icônicas corridas de rua do Brasil - se colocando em uma disputa direta à parceria de mais de duas décadas entre a corrida São Silvestre e a Asics.
O movimento da empresa é estratégico, e não um mero patrocínio: o mercado de corrida de rua vive um boom global, impulsionado principalmente pela Geração Z, que transformou o esporte em fenômeno cultural, misturando saúde, lifestyle e comunidade. No Reino Unido, por exemplo, a Maratona de Londres bateu recordes de inscrição, e clubes de corrida viraram o novo “happy hour” entre jovens urbanos.
Para a Nike, a São Silvestre deixa de ser apenas uma prova e passar a ser uma vitrine para um publico difícil de conquistar. O Brasil possui um dos maiores mercados de corrida amadora do mundo, com milhões de praticantes e um calendário de provas que cresce ano após ano. Ao assumir o patrocínio, a empresa americana sinaliza que pretende reconquistar terreno perdido para concorrentes como On Running, Hoka e a própria Asics, que ganharam espaço oferecendo tecnologia de amortecimento e nichos específicos.
O desafio da Nike será traduzir presença de marca em conversão real - alfo que exige não só marketing, mas inovação técnica em calçados e vestuário que convença um público cada vez mais exigente e informado.
A corrida de rua, por sua vez, a cada ano movimenta uma cadeia cada vez maior de consumo, que inclui desde tecnologia vestível (smartwatches, tênis conectados), à nutrição esportiva, turismo de eventos e até health techs que monetizam dados de desempenho. Se a Nike acertar o passo no Brasil, poderá usar o país como laboratório para escalar estratégias em outros mercados emergentes.
Alphabet adquire desenvolvedora de energia limpa: o caminho da autossuficiência
A Alphabet, controladora do Google, anunciou a aquisição de uma desenvolvedora de projetos de energia limpa, reforçando sua aposta em garantir suprimento energético sustentável para suas operações. O movimento é muito claro não é nada isolado (pelo contrário): Big Techs como Microsoft, Amazon e Meta têm corrido para assegurar fontes de energia renovável diante da explosão no consumo de seus data centers, impulsionado por cargas de trabalho de inteligência artificial.
A lógica é clara e direta: os modelos de IA generativa consomem ordens de magnitude energética muito superiores do que buscas tradicionais pelo mesmo suprimento. Ao treinar um único modelo de grande porte, pode-se exigir uma quantidade de eletricidade equivalente ao consumo anual de centenas de residências. Nesse cenário, garantir energia limpa não é apenas questão de imagem ESG - mas é uma vantagem competitiva e uma prudente gestão de riscos.
Empresas que dependem de redes elétricas instáveis ou de fontes fósseis sujeitas a volatilidade de preço, caso não se preparem, poderão ficar vulneráveis operacionalmente a oscilações de mercado - como aconteceu recentemente com a Europa em seu dependência energética à Rússia, por exemplo.
A aquisição também revela uma tendência de verticalização das gigantes. Assim como Amazon e Microsoft investem em reatores nucleares modulares e fazendas solares próprias, a Alphabet busca controlar sua cadeia energética de maneira independente. Isso pode redesenhar as operações e modelos do setor elétrico global: Big Techs deixaram de ser apenas consumidoras e passaram a ser agentes do mercado de energia - com poder de negociação, influência regulatória e capacidade de acelerar (ou distorcer) a transição energética conforme seus interesses.
Alexa se integra na tentativa recuperar terreno na disputa pela IA
A Amazon anunciou que sua assistente de voz Alexa agora funciona integrada a plataformas como Angi, Expedia, Square e Yelp, permitindo que usuários realizem tarefas como agendar serviços, buscar restaurantes e planejar viagens diretamente por comando de voz. O movimento é uma tentativa de revitalizar a Alexa, que perdeu protagonismo enquanto concorrentes como Google, Microsoft e OpenAI dominavam as manchetes com avanços em IA generativa.
A Amazon chegou atrasada à corrida dos grandes modelos de linguagem. Enquanto o ChatGPT se tornava fenômeno de massa e o Copilot era embutido em produtos Microsoft, a Alexa permanecia presa a comandos simples e respostas limitadas.
Diante disso, esta tentativa recente de integração com serviços de terceiros pode ser uma estratégia de ecossistema: se a Amazon não pode (ainda) competir em inteligência pura, pode competir em utilidade prática - tornando a Alexa um hub que orquestra ações reais no mundo, não apenas conversas.
O desafio para a empresa de Bezos, porém, é duplo.
Primeiro, a Amazon precisa acelerar a incorporação de capacidades generativas robustas à Alexa, algo que já sinalizou estar em desenvolvimento.
Segundo, precisa convencer desenvolvedores e empresas a priorizarem integrações com seu ecossistema em vez de apostar em assistentes concorrentes que, para dificultar sua vida, já estão muito a frente em desenvolvimento tecnológico.
Ao fim, é claro disputa pela interface de voz está longe de ser decidida (ela sequer está em seu ápice) - e quem vencer controlará uma das portas de entrada mais valiosas da computação do futuro.
O valor esquecido da paciência: lições de quem investiu por décadas
Alguns dos maiores retornos da história corporativa do mercado financeiro não nasceram de movimentos espetaculares, mas de decisões silenciosas e persistentes. A Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, é talvez o exemplo mais emblemático dessa lógica. Sua participação na Coca-Cola, iniciada em 1988, jamais foi vendida. Mais de três décadas depois, os dividendos anuais recebidos já superam o valor total do investimento original, enquanto a posição continua gerando caixa de forma recorrente, sem qualquer interferência na gestão operacional da companhia.
Esse padrão não foi exceção. Ele se repetiu - e ainda se repete - em participações históricas da holding na American Express, na Apple e em outras gigantes globais. Ativos mantidos por décadas produziram uma combinação rara de valorização patrimonial extraordinária e previsibilidade de fluxo de caixa, enquanto o mercado ao redor girava freneticamente entre crises, modismos e ciclos especulativos.
A lógica por trás dessas decisões era simples, embora hoje pareça quase contracultural: identificar empresas com marcas fortes, modelos de negócio resilientes, boa governança e exposição estrutural a mercados duradouros. Não se tratava de buscar o próximo grande “trade”, mas de proteger capital contra ciclos econômicos e rentabilizar excedentes sem desviar atenção do core business. Em essência, era a transformação da paciência em estratégia - um ativo intangível, porém extremamente lucrativo.
Essa lição permanece atual, e talvez mais do que nunca. Vivemos um momento em que a pressão por resultados imediatos molda decisões em praticamente todos os níveis: startups queimam caixa em apostas cada vez mais arriscadas, investidores exigem crescimento trimestral contínuo e ciclos de hype se sucedem em velocidade crescente. O horizonte de décadas, nesse contexto, parece uma relíquia de outra era - embora continue sendo uma das formas mais consistentes de alocação eficiente de capital.
O mercado de inteligência artificial é um exemplo claro dessa tensão. Enquanto novas empresas surgem diariamente prometendo disrupções radicais, muitas vezes sustentadas mais por narrativas do que por fundamentos, poucas conseguem construir vantagens competitivas duráveis, produtos defensáveis e modelos econômicos capazes de atravessar ciclos. Ao mesmo tempo, empresas que efetivamente detêm infraestrutura, dados, talento e capacidade de execução tendem a ser avaliadas sob a ótica do próximo release, da próxima rodada ou do próximo benchmark, e não de sua capacidade de gerar valor sustentável ao longo de décadas.
Para gestores, empreendedores e investidores, a pergunta relevante talvez não seja onde está o próximo pico de crescimento, mas quantas oportunidades estruturais de longo prazo estão sendo ignoradas pela obsessão com o próximo resultado. Em mercados cada vez mais barulhentos, a disciplina, a seletividade e o tempo continuam sendo vantagens competitivas - silenciosas, mas poderosas.








