IA que Compra por Você, Robô-Táxis em Guerra, Black Friday Estratégica e a Disputa pelo Futuro Lunar
Bom dia! Hoje é 26 de novembro. Neste mesmo dia, em 1922, nascia Charles Schulz, criador de Snoopy, um artista que transformou traços simples em mensagens profundas sobre comportamento humano. Curioso pensar que, cem anos depois, estamos transformando não lápis em personagens, mas inteligência em novos hábitos da sociedade.
IA que compra em seu lugar: a “segunda fase do tráfego pago”
A OpenAI e a Perplexity anunciaram oficialmente seus assistentes de compras por IA, capazes de filtrar produtos, analisar avaliações, comparar preços e sugerir opções com base no comportamento do usuário. À primeira vista, trata-se apenas de conveniência, mas estrategicamente estamos diante de um novo intermediário de consumo, talvez o mais poderoso desde o Google Ads.
Se o marketing digital atual disputa atenção, a próxima etapa será disputar a intenção mediada por IA. Um algoritmo que decide qual tênis recomendar ou qual computador “combina com o seu perfil” torna-se um agente econômico autônomo, influenciando milhões de decisões simultaneamente.
Para o e-commerce, o impacto dessa tecnologia poderá ser catastrófico. Funcionando como uma segunda camada do tráfego pago, o “tráfego IA” obrigará marcas a otimizar produtos não apenas para humanos, mas para modelos que priorizam métricas próprias: qualidade, preço, entrega, reputação, consistência e, possivelmente, influências de players patrocinadores.
Quem não aparecer como “a recomendação preferida do modelo” correrá o risco literal de desaparecer da vitrine do consumidor, cujas escolhas estarão cada vez mais reféns de algoritmos. O risco de captura é imenso: se plataformas treinarem seus modelos para favorecer parceiros comerciais, instala-se um oligopólio invisível onde a IA não apenas recomenda, mas modela o comportamento de compra nacional.
Estamos adiante de um possível novo sistema operacional do consumo.
A China quer o trono dos robôs-táxi e desafia a hegemonia dos EUA
A empresa chinesa, Pony.ai, planeja triplicar sua frota global de robotáxis até o fim de 2026. O movimento não se trata apenas de engenharia automotiva, mas de geopolítica. Os EUA, até então dominantes no setor com players como Waymo e Uber, veem agora uma entrada agressiva da chinesa no mercado global, sinalizando um desejo de ocupação de um espaço que, até pouco tempo, parecia intocável.
Os movimentos recentes deixam claro como essa disputa se desdobra:
Em Shenzhen, o Vale do Silício chinês, se encerram agora os anos de testes piloto para permitir que táxis autônomos operem em toda a cidade. A Pony.ai foi a primeira empresa a receber uma permissão de cobertura total para atuação, um marco que consolida sua posição no mercado mais importante da China.
Simultaneamente, a plataforma estoniana Bolt fechou uma parceria com a Pony.ai para levar veículos autônomos capazes de operar sem intervenção humana à Europa, mostrando que empresas chinesas vem reforçando presença no continente diante das recentes restrições impostas pelas americanos.
Esse movimento integra uma estratégia mais ampla: exportar tecnologia autônoma para demonstrar que a China não apenas fabrica carros, mas domina seu cérebro: os sistemas de IA embarcada. Para países emergentes e até para mercados periféricos na Europa, a disputa tem consequências tangíveis, como acesso a infraestrutura mais barata de carros elétrico e, inevitavelmente, dependência tecnológica e influencia chinesa aprofundada - num mercado que, até então, detinha padrão americano.
Mercado Livre em uma batalha pela soberania do e-commerce brasileiro
Nesta Black Friday, o Mercado Livre reforçou a estratégia de descontos agressivos e aumento de inventário, mirando a forte concorrência frente a sua frente (Amazon e Shopee). Mas o ponto central desta jogada não é a promoção do momento, mas sim a disputa pela infraestrutura do varejo digital no Brasil.
O Meli já domina fulfillment, última milha e possui talvez a malha logística mais capilar do país. Porém, a Amazon vem escalando centros de distribuição agressivamente, enquanto Shopee subsidia fretes e vendedores. Para manter a posição, o Mercado Livre precisa combinar preço competitivo com velocidade de entrega e confiabilidade operacional, um custo que cresce exponencialmente conforme o e-commerce expande para fora dos grandes centros urbanos.
O desafia frente ao concorrentes é grande, mas o Mercado Livre tem um trunfo que Amazon e Shopee não possuem na mesma escala: enraizamento cultural. Fundado e liderado por argentinos, o Meli é percebido como uma empresa nossa, não como um “gringo tech” do Vale do Silício ou uma plataforma asiática. Essa legitimidade brasileira, construída ao longo de duas décadas operando no país, é um ativo intangível que transcende descontos. Consumidores tendem a preferir empresas que “entendem” o mercado local, que investem em infraestrutura doméstica, e que geram empregos por aqui.
O Mercado Livre pode potencializar essa vantagem. Enquanto Amazon e Shopee são vistas como otimizadoras de lucro global, o Meli pode reforçar sua narrativa como defensor do varejo brasileiro. Campanhas que celebrem vendedores locais, micro e pequenas empresas que cresceram na plataforma, histórias de empreendedores… tudo isso transforma o Mercado Livre de “marketplace que faz desconto” para “infraestrutura que permite que o Brasil venda para si mesmo”.
Dobrar a aposta financeira é necessário, mas insuficiente. O recado que o Mercado Livre realmente precisa enviar é: somos o hub nativo que organiza e da oportunidade ao varejo brasileiro.
A Lua como território estratégico e a corrida pelo hélio-3
Por séculos, a Lua foi uma metáfora, objeto de arte, religião e ciência. Hoje, ela se torna um ativo. Sob sua superfície, há depósitos abundantes de hélio-3, um isótopo raro na Terra que permite fusão nuclear limpa (conhecimento que brilha os olhos dos donos de data centers), altamente eficiente, sem emissão de carbono e com densidade energética muito superior aos combustíveis tradicionais. Se a exploração lunar se tornar viável, o hélio-3 pode ser para o século XXI o que o petróleo foi para o século XX: o recurso que subordina geopolítica, economia e poder militar. Quem controlar as jazidas controla o futuro energético global.
Os Estados Unidos, compreendendo essa realidade, lideraram a criação dos Acordos Artemis, um pacto internacional que regula exploração lunar, estabelecendo princípios para uso comercial, pesquisa, segurança e cooperação entre nações. Em tese, estes servem para evitar conflitos. Na prática, porém, os Acordos abrem margem para algo bem mais controverso: cada país signatário poderá operar “zonas de segurança” ao redor de suas áreas de exploração, uma demarcação informal que funciona como apropriação territorial.
Essa arquitetura jurídica não é neutra. Os EUA, ao estruturar os Acordos Artemis, criaram um mecanismo que permite operação e delimitação de territórios lunares sob o verniz da cooperação internacional. Rússia e China, ambas não ratificantes dos acordos, denunciaram a iniciativa como tentativa americana de colonizar o espaço sob nova roupagem. A Rússia propôs regulamentações alternativas na ONU; a China intensificou sua própria agenda lunar. O resultado é o ponta pé inicial de uma nova corrida espacial que reproduz as tensões do período de Guerra Fria.
A Lua, agora, deixaria de ser um símbolo para se tornar um recurso econômico e militar. Cada zona de segurança é potencialmente uma base militar disfarçada; cada campo de hélio-3 controlado é um ativo geopolítico permanente. Os Acordos Artemis são a constituição econômica e política da próxima fronteira humana, escrita pelos que chegam primeiro.






