Análise: 50% do e-commerce brasileiro pertence ao Mercado Livre
O Mercado Livre está prestes a conquistar algo que poucas empresas conseguiram no mundo: dominar metade de todo o e-commerce de um país continental. A estimativa é que, em 2025, o Meli movimente R$ 183 bilhões em vendas no Brasil, enquanto o comércio eletrônico nacional deve atingir R$ 414 bilhões. Ou seja, quase 45% de tudo o que é vendido online no país passa por uma única empresa.
Esse domínio é impressionante não apenas pelo tamanho do mercado, mas pela velocidade. Há cinco anos, o Meli representava cerca de 25% do e-commerce brasileiro. Em meia década, dobrou sua participação, enquanto concorrentes tradicionais perderam fôlego, dilaceradas por dívidas, má gestão e pela incapacidade de competir em tecnologia, logística e experiência.
O segredo da ascensão do Mercado Livre está na combinação de três forças: infraestrutura logística, integração financeira e inteligência de dados. O Meli construiu a maior rede de distribuição privada da América Latina, com 23 centros de fulfillment no Brasil e capacidade para entregar em 24 horas em mais de 2.000 cidades. Paralelamente, o Mercado Pago transformou-se em um dos maiores bancos digitais do país, com mais de 50 milhões de usuários ativos, carteiras digitais, crédito para vendedores e até investimento em renda fixa.
Essa fusão de varejo e finanças criou um ecossistema quase impenetrável. Cada compra gera dados, cada pagamento alimenta o crédito, e cada entrega reforça a reputação, um ciclo virtuoso que fortalece a companhia a cada transação. É o sonho de qualquer empresa digital: escalar em rede, não em linha.
Em 2024, o Mercado Livre ultrapassou R$ 30 bilhões em receita líquida global, com lucro operacional acima de US$ 2 bilhões e crescimento de 35% ano contra ano. No Brasil, que representa cerca de 55% do seu faturamento, a empresa não apenas domina o comércio eletrônico: define o que o consumidor entende como “boa experiência de compra”. Entrega rápida, preço competitivo e confiança viraram sinônimos de Meli.
Enquanto Amazon luta para crescer no país e Shopee perde terreno com o fim dos subsídios fiscais, o Mercado Livre consolida algo raro: liderança e rentabilidade no mesmo modelo de negócio. Essa combinação é tão incomum que, no mundo, apenas Amazon e Alibaba chegaram perto, mas em contextos muito diferentes.
O “primeiro tempo” do jogo pertence, sem dúvidas, ao Mercado Livre. Todos os outros disputam a outra metade do campo: um terreno cada vez menor, mais caro e mais competitivo. Só não podem esquecer que o Meli também joga o segundo tempo. E, ao que tudo indica, está mais veloz, mais capitalizado e mais confiante do que nunca.