A Loteria Geográfica da Vida
Imagine que, antes de nascer, você está numa sala de embarque. Você fica ali, aguardando o seu assento ser chamado. Não existe fila preferencial, não existe rota alternativa. Você fica ali, simplesmente esperando sua hora de seguir.
O painel de senhas faz os números girarem. E, junto com eles, um aviso sonoro diz: “número 47, Ásia". "Número 79, Europa”. Essa é a “Loteria Geográfica da Vida", que determina o lugar onde você vai desembarcar aqui nesse mundão.
Se você estivesse nessa fila e o seu número fosse chamado, você teria uma chance de quase 50% de desembarcar na Ásia. Metade da sala seguiria para lá. Não porque é melhor ou pior, mas porque é onde mais gente nasce. É pura escala.
Se você não fosse chamado para a Ásia, a próxima chance forte seria a África. Cerca de 35% dos embarques vão para lá. É o continente mais jovem do mundo, com mais gente entrando em cena do que saindo. Onde o futuro ainda chega em grandes levas.
Somando os dois, o anúncio ficaria claro: 84% dos passageiros desembarcam entre Ásia e África. O resto do mundo divide o que sobra. A Europa aparece quase como um voo regional. Menos de 5% das chamadas. Um continente que já foi o centro do mundo, mas hoje gera poucos novos “passageiros”. Envelheceu.
A América do Norte tem um portão ainda menor: pouco mais de 3%. Cresce mais por quem chega depois do nascimento do que por quem nasce ali. A América do Sul fica no meio do caminho. Ainda embarca gente, mas já sente o ritmo diminuir.
E a Oceania… bom, se seu nome fosse chamado para lá, seria quase um milagre estatístico. Menos de 1% das passagens. No fim, esse exercício não fala sobre preferência. Fala sobre probabilidade.
O mundo não está distribuindo nascimentos de forma equilibrada. Está concentrando. E isso muda tudo: trabalho, consumo, poder, política. Então, se você ainda estivesse ali, esperando o anúncio final, a pergunta não seria “onde você quer nascer?”, mas “para onde o mundo está mandando mais gente agora?”



