90% do conhecimento será artificial. E os 10% humanos?
Jensen Huang lançou uma daquelas frases que não são previsões, são placas de trânsito apontando o caminho. “Em dois ou três anos, 90% do conhecimento do mundo será gerado por IA.” E antes que alguém pudesse respirar, ele completou com a pergunta que vira o nosso cérebro do avesso: “Que diferença faz se meu livro foi escrito por pessoas que nunca conheci… ou por uma IA resintetizando tudo o que sabemos?”
Essa pergunta não é retórica. É um aviso.
Porque o mundo já começou a mudar sem esperar por esse prazo. Em 2025, não era raro abrir um relatório financeiro, um resumo de um caso jurídico, uma análise de mercado ou até a descrição de um produto comum em um e-commerce e perceber que aquilo tinha sido escrito por algum modelo generativo. Não assistido. Gerado. Bancos automatizaram comunicados internos, hospitais criaram laudos preliminares com IA, empresas passaram a redigir contratos-padrão com seus próprios modelos. A internet virou menos “rede” e mais “máquina de resíntese”.
E isso nos deixa inquietos. Com razão.
A IA não tem aquela sensação agridoce de tomar uma decisão difícil no limite da informação. Não entende o silêncio constrangedor de uma reunião tensa. Não aprende ao perder um cliente importante. Não muda de rota porque algo te incomodou por semanas. A IA não sabe o que significa criar uma empresa do zero ou apostar tudo em algo que ninguém acreditava. Ela não vive. E conhecimento humano nasce justamente disso: do atrito entre a vida real e o que decidimos fazer com ela.

Se 90% do conhecimento passa a ser gerado por máquinas, estamos criando um novo tipo de solo onde as ideias brotam sem fricção. E isso tem implicações profundas. Uma IA pode escrever milhares de estudos sobre agricultura, mas nunca vai sentir o cheiro da terra molhada. Pode produzir diagnósticos médicos detalhados, mas não percebe o tremor da mão de quem recebeu a notícia. Pode redigir discursos políticos impecáveis, mas não encara a reação de uma plateia dividida. Esse descolamento entre “saber” e “viver” exige uma vigilância constante.
Mas também seria um erro ignorar o outro lado dessa equação.
A IA está oferecendo algo que a humanidade nunca teve: escala de pensamento. Pesquisas que levavam meses agora duram horas. Simulações científicas que dependiam de supercomputadores são feitas em notebooks comuns. Pequenas empresas estão desenvolvendo produtos globais sem precisar contratar times gigantes. Alunos do interior conseguem gerar experimentos, ideias e protótipos com a mesma velocidade de grandes centros de pesquisa. Nunca houve tanta abundância intelectual disponível para tanta gente.
E é aí que mora o ponto crucial: a IA não substitui a nossa bússola. Ela amplia o terreno, mas não mostra o norte. Ela nos dá velocidade, não direção. O risco não está no modelo acertar ou errar; está em esquecermos que a responsabilidade pelo “sentido” continua sendo nossa.
Se 90% do conhecimento será gerado por IA, então os 10% humanos se tornam o diferencial competitivo da espécie. Intuição, julgamento, ética, experiência, vivência, coragem de discordar. O mundo está acelerando para uma era onde a lógica é produzida por máquinas, mas o significado ainda depende da gente.



