Warren Buffett encontrou um porto seguro?
Warren Buffett não é conhecido por seguir modinhas. Ele não corre atrás do hype, não surfa onda alheia, não se deixa impressionar por manchetes. Por isso, quando a Berkshire Hathaway revela a compra de quase 18 milhões de ações da Alphabet (dona do Google), um movimento de quase 5 bilhões de dólares no terceiro trimestre, o mercado para e presta atenção.
É raro ver Buffett fazer uma aposta tão significativa justamente agora, em um momento em que o mundo inteiro discute se estamos vivendo uma bolha de inteligência artificial. E é ainda mais simbólico notar que, enquanto corta parte da posição em Apple, ele escolhe ampliar presença justamente na empresa que controla a maior máquina de dados, buscas e infraestruturas de IA do planeta.
O Google sempre foi uma empresa que vive entre o racional e o inevitável. Racional porque continua imprimindo caixa em escala industrial com publicidade, nuvem e plataformas globais. Inevitável porque ninguém consegue escapar do ecossistema Google, mesmo que tente. Em um mundo em que a IA está redefinindo tudo, talvez esse seja o porto seguro mais óbvio que muitos não enxergam. Buffett, que raramente coloca o pé em tecnologias ainda em transição, parece ter entendido que o Google não é mais apenas uma empresa de tecnologia. É infraestrutura crítica para a próxima década.
Ao entrar pesado justamente agora, Buffett envia um recado silencioso ao mercado. Ele não está comprando o hype, está comprando a sobrevivência. Está comprando a empresa que continua sendo relevante independentemente de qual modelo, qual framework ou qual laboratório de IA estiver no topo do hype da semana. Em meio ao excesso de entusiasmo – e aos valuations que desafiam a gravidade – ele encontrou solidez no mesmo lugar onde muitos só enxergam volatilidade. Buffett não está ignorando a revolução da IA, ele está escolhendo onde se refugiar dentro dela.
No fim do dia, essa movimentação revela mais sobre o momento do mercado do que sobre Buffett. Enquanto muitos correm para capturar o “próximo foguete”, ele prefere ancorar o barco no único porto que continua intacto mesmo com a maré agitada. O Google é a síntese dessa lógica. É como se Buffett dissesse que, no meio do ruído, é ali que ele vê estabilidade, previsibilidade e capacidade real de atravessar qualquer ciclo. Em tempos de euforia, nada é tão valioso quanto saber onde pisar.



