Stranger Things e a Economia da Atenção, Huawei Derrota Porsche, Brasil 2026 sob Incerteza e Novas Apostas do SoftBank
Bom dia! Hoje é 30 de dezembro. Neste mesmo dia, em 2006, Saddam Hussein era executado no Iraque, marcando o fim simbólico de uma era e inaugurando outra igualmente turbulenta. Quase duas décadas depois, o mundo continua disputando poder - mas agora também no campo dos algoritmos, das telas e da atenção. E é justamente sobre isso que falamos hoje.
Stranger Things: quando uma série movimenta o PIB Americano
A série fenômeno, Stranger Things, está prestes a deixar de trazer novos capítulos ao streaming. Mas, antes de apagar as luzes, ela vem sendo a responsável por reescrever o que significa sucesso no entretenimento digital global.
Com o lançamento de sua quinta e última temporada, o seriado se consolida como o maior fenômeno de audiência da história da Netflix: com cinco temporadas, 42 episódios, mais de 2.500 minutos de narrativa e um impacto de US$ 1,4 bilhão no PIB dos Estados Unidos. Só na Geórgia, local berço da produção, foram movimentados cerca de US$ 650 milhões, com mais de 8 mil empregos gerados no processo.
O domínio foi além do sucesso no streaming. O Volume 1 da nova (e última) temporada alcançou 102,6 milhões de espectadores globais em quatro semanas, a maior estreia de uma série em inglês na plataforma, com todas as cinco temporadas entrando simultaneamente no Top 10 global de conteúdos mais assistidos da plataforma - um feito inédito. Até mesmo o Spotify registrou uma alta de 1.250% nas buscas pela música Upside Down, de Diana Ross (música tema da série), durante o lançamento.
São nessas movimentações que podemos observar a economia da atenção operando em escala total: uma obra de ficção foi capaz de reorganizar hábitos de consumo dos espectadores ao redor de todo o mundo, impulsionar trilhas sonoras esquecidas e gerar efeitos macroeconômicos mensuráveis.
O fenômeno Stranger Things é, na verdade, um estudo de caso sobre o novo motor da economia digital. Não são mais fábricas que determinam ciclos produtivos de uma sociedade, mas são suas narrativas.
Quem domina a atenção, domina também o fluxo de capital.
E isso muda tudo: desde o investimento em produção audiovisual até a forma como países competem por estúdios, talentos e infraestrutura criativa. A Netflix, neste lançamento, apenas nos deixou mais claro o quanto os hábitos de uma sociedade são moldados e, portanto, ditam (sob influência direta) os trâmites de mercados complexos de ponta a ponta. A atenção é um elefante na sala - cada dia sob maior concorrência - e, quem não entender isso, sentirá o peso de são ser visto e consumido por ninguém.
Huawei supera Porsche e BMW: o luxo agora fala mandarim
O Maextro, sedã de luxo da Huawei, superou em vendas o Porsche Panamera e o BMW Série 7 na China. O dado não é simplesmente comercial - é simbólico. Durante décadas, o mercado automotivo de alto padrão foi território exclusivo de marcas europeias. Mas, agora, uma empresa de tecnologia chinesa ocupa esse espaço com um veículo elétrico, conectado e carregado de inteligência artificial embarcada.
A ascensão não é acidental. As montadoras chinesas, ao longo de anos, combinaram três vantagens difíceis de serem replicadas:
Domínio completo da cadeia de baterias;
Uma integração vertical e total de software e hardware - sendo a IA e a tecnologia embarcada inteiramente de autoria da Huawei; e
Um mercado interno gigantesco que funciona como laboratório de escala.
Enquanto BMW e Porsche ainda tentam equilibrar tradição com inovação, a Huawei nasceu digital e transferiu sua lógica de smartphones para veículos. Para esta nova era do setor, carro deixou de ser um bem mecânico e passou a ser uma plataforma de software (e dados) com rodas.
Este impacto é nítido e se estende para além da China. A mesma lógica que permitiu à Huawei destronar ícones do luxo europeu é a mesma que vem posicionando BYD como uma ameaça global às montadoras tradicionais - já alcançando cerca de 10% do varejo da América Latina.
A indústria automobilística ocidental enfrenta um dilema existencial: ou acelera a transformação digital e soluciona seus conflitos políticos por energia, ou assiste à erosão de décadas de prestígio. O caso Maextro não é exceção: é prenúncio.
Brasil 2026: o ano em que resiliência será obrigação
Previsões de analistas indicam que o ecossistema de startups brasileiro entrará em 2026 com um pé no acelerador e outro no freio - e os motivos para a cautela são bastante concretos.
Em 2025, os aportes em equity atingiram US$ 1,7 bilhão, o menor nível em quatro anos, representando uma queda de 34% em relação ao ano anterior e de 64% frente aos US$ 4,8 bilhões de 2022. Isso significa que, para os founders, o próximo ano exigirá mais do que boas ideias para a atração de capital: exigirá criatividade financeira e muito estômago para navegar um ambiente de juros altos, instabilidade fiscal (com os recentes aumentos de impostos sobre presunções de lucros nas operações de empresas) e eleições presidenciais no horizonte.
A esperança, porém, existe: uma eventual e pressionada queda nas taxas de juros, tanto aqui quanto nos Estados Unidos. Mas o alívio, se vier, será comedido. Segundo o boletim Focus, a Selic deve encerrar 2026 em 12,25% ao ano, um valor longe do patamar que faria o capital de risco voltar a fluir com força. Porém, o problema estrutural permanece: no Brasil, o governo disputa dinheiro com o empreendedor, afinal, para investidores, as taxas altas de juros são muito mais atrativas que a grande maioria das pequenas empresas em potência. Para competir em momentos de renda fixa turbinada, as startups precisam entregar retornos operacionais muito acima da média global. É uma corrida injusta desde a largada.
Do lado do acelerador, a inteligência artificial segue como o grande vetor de otimismo, mas agora sob certo escrutínio. Afinal, com o mercado se consolidando, os investidores estão mais seletivos, buscando empresas com adoção real, casos de uso repetíveis e caminhos críveis para escalar - o entusiasmo difuso de anos anteriores deu lugar a perguntas mais duras sobre utilidade econômica e geração de caixa real.
Ao fim, em 2026, quem sobreviver será quem lidará melhor a equilibrar pragmatismo com criatividade e foco absoluto em produção real. Não será fácil. Mas, para quem atravessar, o outro lado pode ser promissor.
SoftBank agora aposta na infraestrutura da IA
O SoftBank fechou a aquisição da DigitalBridge, gestora americana de private equity especializada em infraestrutura digital, por US$ 4 bilhões (incluindo dívidas). O acordo, confirmado pelas empresas nesta segunda-feira (29/12), prevê um pagamento de US$ 16 por ação, um prêmio que fez os papéis da DigitalBridge dispararem no pré-mercado de Nova York.
A compra representa mais do que aparenta. A DigitalBridge não é uma empresa qualquer. Liderada pelo CEO Marc Ganzi, a gestora administra cerca de US$ 108 bilhões em ativos e controla operadoras de infraestrutura digital como AIMS, AtlasEdge, DataBank, Switch, Vantage Data Centers e Yondr Group.
Em outras palavras: o SoftBank acaba de comprar acesso direto ao encanamento da economia digital global. Enquanto a maioria das empresas briga por GPUs da Nvidia, Son (CEO do SoftBank) ataca o problema por outro ângulo, afinal, quem controla os data centers, controla onde e como a IA opera.
O movimento faz parte de uma estratégia maior. Em janeiro, o SoftBank anunciou o projeto Stargate, uma parceria de US$ 500 bilhões com OpenAI, Oracle e MGX (de Abu Dhabi) para construir data centers nos Estados Unidos com capacidade de 7 gigawatts, o equivalente ao consumo de algumas cidades inteiras.
Mas o Stargate tem avançado mais lento que o esperado, sendo travado por divergências sobre localização e incertezas de mercado. Para financiar essa ofensiva, Son precisou fazer escolhas difíceis: neste mês, admitiu estar “chorando” ao vender uma participação de US$ 5,8 bilhões na Nvidia para realocar capital em infraestrutura de IA.
A aquisição da DigitalBridge é, portanto, uma peça central de um quebra-cabeça bilionário que, se der certo, fará com que o SoftBank deixe de ser apenas investidor de startups e se torne o proprietário da nova economia digital.









