Robô-Árbitro na Copa, Tesla Desafiando Leis, IA toma conta dos Apps e Excel ainda faz parte do “Cérebro” Corporativo
Bom dia! Hoje é 5 de dezembro. Neste mesmo dia, em 1978, o microprocessador Intel 8086 era anunciado: o chip que pavimentou a estradas da computação pessoal. Hoje, em 2025, estamos relançando a estrada: algoritmos, câmeras, agentes de IA e chips redefinem como vivemos, trabalhamos ou até torcemos.
Quando Dados Substituem o Julgamento Humano
A Copa do Mundo de 2026 representará o momento em que o futebol irá atravessar por definitivo o limiar entre esporte e sistema algorítmico. A FIFA confirmou um pacote tecnológico que transformará a arbitragem em algo que o próprio ex-árbitro italiano, Pierluigi Collina, comparou a um “Robocop”: (i) RefCam (câmera acoplada ao corpo do árbitro); (ii) impedimento semiautomático com inteligência artificial; e (iii) estudos para aplicar VAR até em escanteios - lance tradicionalmente fora do escopo de revisão.
O impedimento semiautomático, testado com sucesso no Mundial de Clubes, eliminou completamente os atrasos prolongados para esse tipo de marcação. A inovação para 2026 vai além: agora a decisão será transmitida via alerta de áudio diretamente ao árbitro assistente, dispensando a checagem no monitor pelo VAR. Doze câmeras especiais rastreiam a posição exata de cada jogador, enquanto sensores na bola captam o momento preciso do passe. O que antes dependia do olho humano e de frações de segundo agora é determinado por algoritmos em milissegundos.
As implicações transcendem o campo. A subjetividade tradicional, como quedas duvidosas, disputas de bola ambíguas e posicionamentos questionáveis, está sendo sistematicamente substituída por métricas objetivas. Isso transforma não só a experiência do torcedor, mas as estratégias de clubes, agentes e patrocinadores: performance em campo será cada vez mais medida em centenas de pontos de dados por segundo, não apenas gols e estatísticas tradicionais. Quem controla esses dados - sua coleta, análise e distribuição - controlará o valor do espetáculo.
O que está em jogo não é apenas eficiência arbitral, mas uma questão filosófica sobre o que significa “jogo justo” na era dos algoritmos. A linha entre futebol e tecnologia não se estreita: ela se dissolve completamente. As regras do jogo se convertem em sistema, e o sistema se torna parte do espetáculo.
Tesla e o Paradoxo da Autonomia
A recente declaração de Elon Musk de que a versão mais recente do Full Self-Driving permite aos motoristas enviar mensagens enquanto dirigem, dependendo do contexto de tráfego, expõe uma tensão fundamental na era dos veículos semiautônomos. Enviar mensagens enquanto dirige é ilegal em quase todos os 50 estados americanos, e muitos proíbem qualquer uso manual de telefones celulares.
O que Musk está realmente anunciando não é uma mudança legal, mas tecnológica: a Tesla está desativando o recurso de segurança que impede o envio de mensagens em certas situações, removendo o “alerta” que detecta o uso do telefone. Este é um padrão preocupante. A Tesla está tornando o monitoramento de atenção do motorista mais permissivo para fazer o sistema parecer mais capaz do que realmente é, incentivando a complacência.
O problema central é que o FSD permanece sendo um sistema de assistência ao motorista que não torna os veículos Tesla totalmente autônomos. Os motoristas precisam estar prontos para assumir o controle se o sistema encontrar uma situação que não consegue lidar. Porta-vozes da Polícia Estadual de Illinois e do Departamento de Segurança Pública do Arizona confirmaram que enviar mensagens enquanto dirige continua sendo ilegal, sem exceções para sistemas de assistência avançada.
Esta postura revela uma tensão entre promessa e realidade: conveniência versus responsabilidade e segurança. Se o software reduz a frequência de alertas ou permite distrações em nome da “autoassistência”, o risco de acidentes, especialmente em cenários complexos, aumenta exponencialmente.
Para reguladores e seguradoras, o recado é urgente: a automação não elimina a necessidade de supervisão humana. Flexibilizar leis de trânsito para sistemas ainda em desenvolvimento não é inovação, é antecipar tragédias. A “era dos carros autônomos” depende tanto da maturidade tecnológica quanto da ética regulatória e da responsabilidade corporativa.
IA no Cotidiano: Da Democratização à Homogeneização Criativa
Na lista de melhores apps de 2025 da App Store, o grande destaque foi para o Tiimo, um software de planejamento que usa inteligência artificial para simplificar funções executivas e criar rotinas para maior produtividade diária. Esta premiação sinaliza uma mudança profunda: a IA já não é território de especialistas, mas está integrada ao cotidiano do usuário comum, remodelando produtividade, criação, lazer e consumo digital.
Ferramentas que antes exigiam conhecimento técnico ou tempo considerável, agora são acessíveis a qualquer um. Edição de vídeo automática com cortes inteligentes, legendas e ajustes - tudo com pouco ou nenhum esforço humano. Em escala global, isso representa a democratização da produção, mas também uma sobrecarga de oferta de conteúdos simplificados, uma competição baseada em volume e pressão sobre o valor da originalidade humana.
Quando todos têm acesso às mesmas ferramentas algorítmicas, a diferenciação (algo raro atualmente) torna-se cada vez mais difícil. Para empresas, o uso massivo de IA em aplicativos convoca uma reformulação completa de modelos de negócio: design por si só deixa de ser um diferencial competitivo; uma estrutura de dados e capacidade de processamento potente, acoplados ao talento originalmente humano, passam a ser os verdadeiros ativos estratégicos na Nova Ordem da IA.
Do Excel à IA: quando teremos planilhas automáticas funcionais?
Há quatro décadas, o Microsoft Excel transformou computadores pessoais em ferramentas indispensáveis no ambiente corporativo. Hoje, com 1 bilhão de usuários e cerca de 500 milhões de assinantes pagantes, o Excel permanece como a espinha dorsal invisível da infraestrutura empresarial global. No último trimestre, a receita comercial do Microsoft 365 cresceu 17%, enquanto a receita de consumidores aumentou 28%, sinalizando que, apesar dos avanços em IA, as planilhas continuam prosperando.
O paradoxo do Excel reside em sua onipresença ambivalente: é simultaneamente detestado e indispensável. Trata-se de algo tão onipresente que é dado como a personificação do trabalho corporativo moderno, com suas luzes fluorescentes e cubículos cinzentos. Essa mesma ferramenta tornou-se símbolo de empoderamento para milhões: analistas que descobrem padrões em dados complexos usando tabelas dinâmicas, investidores que modelam fluxos de caixa, campanhas políticas que preveem participação eleitoral.
Agora, a inteligência artificial surge como o desafio mais recente. O Copilot da Microsoft promete democratizar a expertise avançada necessária ao uso do Excel, levando técnicas sofisticadas de manipulação de dados ao usuário comum. Dezenas de startups competem para replicar ou substituir o Excel com soluções baseadas em IA. Segundo investidores de capital de risco, todas essas alternativas ainda são construídas sobre o Excel, funcionando como complementos ou gerando planilhas compatíveis com o formato estabelecido há décadas.
Mas há razões para ceticismo. Grandes modelos de linguagem têm dificuldades com cálculos simples e são notoriamente ruins em apresentar resultados. Profissionais relatam passar mais tempo combatendo projetos de IA baseados em intuição do que utilizando integrações realmente úteis. Existe algo escondido no processamento manual de dados - a manipulação direta de células, fórmulas e tabelas - que ajuda a internalizar informações de maneira que chatbots ainda não replicam.
O desafio para qualquer sucessor do Excel não é apenas técnico, mas estrutural: trata-se de décadas de dependência institucional, bilhões em investimentos em treinamento, e a inércia psicológica de gerações acostumadas ao software. A automação via IA certamente transformará como usamos planilhas, mas não necessariamente eliminará a necessidade de compreensão humana profunda sobre como os dados são estruturados, interpretados e validados.







