Relevância: a única busca que importa
A Accenture é amargo, mas realista. Depois de cortar 11 mil pessoas em apenas três meses, a consultoria global deixou claro: só permanecerá na companhia quem conseguir se requalificar para continuar relevante diante da ascensão da inteligência artificial. Esse movimento não é apenas sobre custos, mas sobre sobrevivência em um mercado em que a eficiência já não depende só de pessoas, mas da integração entre pessoas e máquinas.
Durante quatro décadas, usamos praticamente as mesmas ferramentas de escritório. Muitas carreiras foram construídas sobre um repertório que agora se mostra ultrapassado. A chegada da IA generativa desorganizou esse cenário, acelerando a necessidade de novas habilidades. Quem ainda resiste à mudança não está apenas atrasado, está fora do jogo. A questão já não é se vamos nos adaptar, mas quando e como.
A relevância, portanto, se torna o centro da equação. Não basta ter experiência, é preciso mostrar capacidade de aprender, desaprender e reaprender constantemente. Como escrevi no meu novo livro Domine as Hybrid Skills, o futuro exige a combinação entre competências humanas e digitais, em um formato híbrido, onde a máquina não substitui, mas amplia nossa performance. O profissional do amanhã será aquele que souber orquestrar essa parceria.
Outro ponto crítico: a IA escalou a pirâmide hierárquica com uma velocidade surpreendente. Se antes acreditávamos que apenas atividades operacionais seriam substituídas, agora a média gestão sente o impacto. Relatórios, análises, planejamentos… boa parte do trabalho que sustentava esse nível de liderança já pode ser feito por algoritmos em questão de segundos. A pergunta que fica é: o que você, como líder, oferece além disso?
No caso da Accenture, que conta com mais de 700 mil colaboradores, a inteligência artificial pode ser tanto um vetor de produtividade como uma justificativa para reduzir drasticamente esse contingente. Mas essa não é apenas uma história sobre uma empresa, é sobre todas as organizações que começam a rever seu modelo de trabalho e a questionar: quem realmente agrega valor?
Se há uma busca legítima para os profissionais daqui para frente, ela se chama relevância. Ser relevante é ser indispensável. É estar na linha de frente das transformações, não como espectador, mas como protagonista. É assumir que a inteligência artificial não é inimiga, mas a maior oportunidade de alavancar seu talento e multiplicar resultados.
A revolução não é da tecnologia. É nossa.