O Timing da Inovação
O Google acaba de apresentar uma prévia dos seus novos óculos inteligentes, equipados com o Android XR — uma plataforma desenvolvida especialmente para experiências de realidade mista, em parceria com a Samsung. A movimentação é estratégica: o Google está determinado a não repetir o erro que cometeu uma década atrás com o Google Glass.
Lançado em 2013, o Google Glass foi pioneiro ao introduzir a ideia de um wearable de realidade aumentada no cotidiano. Mas, apesar da inovação, o produto falhou comercialmente. O motivo? Não foi a tecnologia em si — foi o timing. A sociedade ainda não estava pronta: faltava capacidade de processamento miniaturizada, redes de alta velocidade, cultura de uso de dispositivos no rosto e, principalmente, aplicações práticas que justificassem o investimento. O Google chegou antes do tempo. E, na tecnologia, chegar cedo demais é tão perigoso quanto chegar tarde demais.
Agora, o cenário mudou. A inteligência artificial avança rapidamente, a miniaturização de hardware permitiu dispositivos mais leves e potentes, a computação espacial se populariza, e novos hábitos digitais (como o uso constante de assistentes virtuais e experiências imersivas) tornaram o conceito muito mais aceitável. O mercado está mais maduro. É nesse novo contexto que Google e Samsung apostam: corrigir o timing e brigar pela liderança antes que a Meta consolide sua vantagem com os óculos Quest.
O timing como fator de sucesso
Muitas vezes, quando falamos de inovações, damos ênfase demais à ideia ou à execução — mas ignoramos um fator silencioso e determinante: o momento. Estar na hora certa é o que diferencia pioneiros que falham de visionários que vencem.
Veja o caso do PalmPilot e do iPhone. Nos anos 1990, a Palm lançou assistentes pessoais digitais que já incorporavam conceitos semelhantes aos de um smartphone: agenda, e-mail, navegação. A tecnologia era impressionante para a época, mas limitada pela conectividade ruim e pela falta de integração com a internet móvel.
Quando o iPhone chegou, em 2007, ele encontrou um ambiente perfeito: 3G, Wi-Fi, app stores, usuários preparados para mudar seus hábitos. Steve Jobs entendeu que a tecnologia só se tornaria revolucionária no momento em que a infraestrutura, o comportamento e a necessidade se encontrassem.
Outro exemplo clássico é o da Realidade Virtual. Desde os anos 1980 existem experiências de VR, mas a maioria falhou porque o hardware era pesado, caro e desconfortável. Foi apenas nos anos 2010, com a chegada de dispositivos como o Oculus Rift (depois comprado pela Meta), que a VR começou a ganhar tração real — beneficiada pelo avanço das GPUs, da ótica e da maior aceitação cultural de jogos e experiências digitais imersivas.
O que aprendemos com isso?
Ter a tecnologia pronta não significa que o mercado está preparado. Lançar um produto revolucionário no momento errado pode condená-lo ao fracasso — e pode até prejudicar a percepção pública sobre a tecnologia, atrasando sua adoção futura. Timing é entender o amadurecimento do ecossistema, os ciclos de comportamento social, a disponibilidade de infraestrutura e a capacidade das pessoas de mudar.
O novo Google Glass, agora equipado com Android XR e reforçado pela parceria com a Samsung, simboliza não apenas uma segunda tentativa — mas uma tentativa mais consciente. Não é mais sobre ser o primeiro. É sobre ser o mais relevante no momento certo.
A corrida para definir a próxima plataforma computacional está oficialmente aberta. E, desta vez, o Google parece ter aprendido que inovação sem timing é apenas uma ideia brilhante esquecida no tempo.