O Paradoxo da Escolha
Vivemos na era da abundância. Nunca houve tantas possibilidades, tantos caminhos, tantas portas abertas. A promessa é sedutora: escolha tudo, viva tudo, experimente tudo. A sensação é que estamos sempre a um clique de uma vida melhor. Mas existe um ponto - silencioso, quase invisível - em que essa liberdade deixa de libertar e passa a aprisionar. É aí que nasce o paradoxo da escolha.
Porque, até certo limite, ter opções realmente é poder. Ter alternativas amplia horizontes, expande oportunidades, cria autonomia. O problema é que o mundo atual empurrou o ponteiro para o extremo oposto: há tantas opções, o tempo todo, que a escolha deixou de ser um exercício de liberdade e virou um exercício de exaustão. A vida passou a ser uma gaveta infinita que nunca termina de ser arrumada.
Quanto mais opções temos, mais carregamos um fardo silencioso. Escolher significa, ao mesmo tempo, abandonar. E o abandono cobra seu preço emocional. Surge o medo de errar, o receio de não aproveitar tudo, a dúvida permanente de que sempre existe algo melhor logo ali, fora do alcance. É o efeito colateral da abundância: a sensação de que qualquer decisão é insuficiente. De que sempre estamos perdendo alguma coisa.
É por isso que tanta gente vive numa espécie de inquietação permanente. Trocamos de série no meio do episódio, de livro no meio do capítulo, de plano no meio do caminho. Pulamos de oportunidade em oportunidade sem realmente mergulhar em nenhuma. Não porque somos indecisos, mas porque somos perseguidos pela fantasia do “e se”. Em um mundo onde tudo é possível, a ausência de limite vira a verdadeira prisão.
E existe ainda um outro ponto, mais profundo: quando as escolhas são infinitas, a sensação de completude se torna impossível. Nada satisfaz, nada acalma, nada basta. A mente, acostumada a buscar o próximo estímulo, perde a capacidade de contemplar o agora. O presente vira apenas uma ponte para o futuro. E viver assim é um jeito elegante de nunca estar em lugar nenhum.
A sabedoria moderna talvez não esteja em ter mais opções, mas em saber quando parar. Em reconhecer o instante exato em que a busca deixa de ser expansão e vira ansiedade. Em perceber que a vida não se mede pelo número de caminhos disponíveis, mas pela profundidade com que se percorre aquele que se escolheu. Às vezes, o verdadeiro luxo não é ter infinitas escolhas, mas poder dizer: já é suficiente.
Contemplar é um verbo esquecido. E, ao mesmo tempo, é um antídoto poderoso. Contemplar não é desistir. É se permitir existir sem a compulsão de otimizar tudo. É olhar para o que temos com um pouco mais de generosidade e um pouco menos de comparação. É transformar o agora em morada, e não apenas em passagem.
O paradoxo da escolha nos lembra que a liberdade não está em poder tudo, mas em não precisar tudo. E que, no fim das contas, a vida que realmente importa é aquela que conseguimos sentir. E não a que ficamos imaginando enquanto tentamos escolher.




Essa abundancia foi um dos meus maiores desafios em 2025. Lendo o texto eu me dou conta de que essa situacao se tornou uma liberdade que aprisiona, ja que voce acaba sendo arrastado de uma opcao a outra e chega a um ponto de quase nao conseguir sair dela.
Talvez esse fenomeno seja uma das causas de tanta ansiedade nas pessoas.