O Fim da Privacidade?
A decisão da MSC Cruises de proibir o uso de óculos inteligentes em seus navios diz menos sobre uma regra específica e mais sobre um novo dilema da era digital. Quando um objeto comum passa a filmar, gravar áudio e transmitir em tempo real, a fronteira entre o público e o privado deixa de ser clara.
Óculos como o Ray-Ban Meta inauguram um desconforto silencioso. Eles se parecem com óculos comuns, mas observam, registram e publicam. Há uma pequena luz de LED que indica gravação existe, mas é quase irrelevante em ambientes como festas, shows ou cruzeiros. Na prática, ninguém sabe quando está sendo filmado.
O problema não está apenas no registro, mas na incerteza constante. Antes, alguém precisava sacar o celular. Havia um gesto visível, quase um aviso. Agora, basta estar olhando. A tecnologia deixa de se anunciar e passa a se esconder nos objetos do cotidiano.
Isso altera o comportamento humano. Ambientes pensados para relaxar passam a exigir vigilância emocional. A espontaneidade diminui quando a confiança se rompe, e a experiência perde leveza. Ninguém está imune às câmeras escondidas nos itens do dia a dia.
Talvez a grande questão não seja se a privacidade acabou, mas quem vai definir seus novos limites. Se deixarmos essa decisão apenas na mão da tecnologia, ela será tomada em silêncio. E, quase sempre, sem pedir permissão.



