Nexus: O Livro de Yuval Harari sobre IA
Yuval Noah Harari ficou conhecido por suas obras que conectam história, ciência e filosofia para explicar o presente e apontar futuros possíveis. Em Nexus, seu novo livro, ele dá um passo além: analisa como as redes de informação moldaram sociedades desde a Idade da Pedra e como agora, no auge da inteligência artificial, estamos diante do maior ponto de inflexão da história humana.
O argumento central de Harari é provocador: a informação nunca foi apenas sobre verdade, mas sobre conexão. Foram narrativas, mitos e sistemas de crença (muitas vezes descolados dos fatos) que permitiram que grupos humanos cooperassem em larga escala, criassem impérios, religiões e estados-nação. Hoje, o mesmo mecanismo opera em escala digital, mas com novos atores: algoritmos capazes de criar, disseminar e manipular informações em velocidade e alcance inimagináveis.
O autor costura exemplos históricos, da Bíblia às burocracias imperiais, do nazismo às fake news modernas, para mostrar como a informação é tanto o cimento que une quanto a dinamite que fragmenta. Mas o ponto mais denso está no presente: a IA como produtora de informação. Diferente da imprensa ou da internet, que apenas ampliavam a voz humana, a IA já é capaz de escrever textos, gerar imagens, compor músicas e até decidir o que cada indivíduo verá em sua tela. Isso desloca o eixo de poder e cria dilemas que vão muito além da tecnologia.
Harari alerta: sem regulamentação séria e sem um novo pacto ético, a IA pode capturar o próprio coração da democracia, manipulando a opinião pública, corroendo instituições e amplificando desigualdades. Ao mesmo tempo, mostra que o potencial da IA pode ser construtivo, se usado como ferramenta para ampliar a criatividade, a ciência e a cooperação.
Nexus não é uma leitura leve. É um convite à reflexão mais profunda sobre o impacto da IA e das redes de informação naquilo que mais valorizamos: nossa autonomia, liberdade e futuro coletivo. Para quem busca compreender além do hype das startups e dos investimentos bilionários, o livro é leitura obrigatória - densa, instigante e, acima de tudo, necessária.