Lei Felca, Anthropic B2B, Agentes X SaaS, Fábricas nos EUA e Geopolítica dos Chips
Bom dia! Hoje é 22 de agosto. Em 1966, o concerto de The Beatles no Shea Stadium viu 55 mil fãs enlouquecerem — a primeira vez que um esporte deu lugar à música em escala massiva. Hoje, no palco global, é a tecnologia que toma o protagonismo, conectando (ou desconectando) mercados, governos e privacidade.
Anthropic leva o Claude Code ao setor corporativo
A Anthropic anunciou a integração do Claude Code em seus planos empresariais, adicionando à sua suíte de IA generativa uma ferramenta voltada ao desenvolvimento de software.
O movimento não é apenas uma expansão de produto: trata-se de um recado direto ao mercado corporativo, que começa a enxergar IA não só como copiloto criativo, mas como um mecanismo de transformação estrutural em equipes de TI.
O setor empresarial, acostumado a lidar com custos elevados de manutenção de software, agora se depara com uma promessa de redução drástica de despesas e aumento de velocidade na entrega de projetos.
O impacto vai além da produtividade. Se empresas puderem contar com IA para automatizar grande parte da codificação, o próprio perfil de profissionais de tecnologia pode se alterar: em vez de milhares de programadores júnior, crescerá a demanda por arquitetos de sistemas e especialistas em auditoria de código. .
Software tradicional sob ataque
Segundo reportagem do Valor, a ascensão da IA já começa a desestabilizar o mercado tradicional de software. Ferramentas que antes eram cobradas por licença ou assinatura estão sendo substituídas por modelos mais baratos, flexíveis e muitas vezes mais poderosos, baseados em IA.
Esse movimento pode lembrar a virada ocorrida nos anos 2000, quando o software livre e o modelo SaaS (software como serviço) desafiaram gigantes estabelecidos. Hoje, no entanto, a ameaça é mais radical: empresas podem reduzir a necessidade de ERPs e CRMs tradicionais, substituindo-os por assistentes inteligentes que integram dados de múltiplas fontes de forma mais adaptável.
O risco é de concentração de mercado. Se poucas empresas controlarem os modelos de IA mais avançados, podem capturar não só clientes individuais, mas infraestruturas inteiras de TI empresarial, criando uma dependência ainda mais forte do que a atual.
Manufatura dos EUA acelera: IA encontra aço e concreto
A atividade manufatureira nos EUA avançou no ritmo mais forte desde 2022 — um sinal de que o ciclo de reindustrialização ganhou tração. Por trás do número, há três motores:
(1) investimentos federais irrigando semicondutores, energia e baterias;
(2) o retorno da produção para o país de origem para reduzir risco geopolítico; e
(3) a demanda por infraestrutura física de IA, data centers, sistemas de resfriamento, transformadores, cabos de alta capacidade e, claro, chips.
A economia digital está exigindo uma base material gigantesca, e isso favorece desde siderurgia e cimento até eletrônica de potência e logística pesada.
Para executivos, a leitura é clara: cadeias mais curtas e contratos de longo prazo com fornecedores críticos (energia, refrigeração, fibra, hardware) deixam de ser tática e viram estratégia de sobrevivência.
Brasil aprova regras para proteção de crianças na internet
A Câmara aprovou um pacote de proteção para crianças e adolescentes online que reposiciona obrigações de plataformas no país. O eixo provável da regulação combina dever de cuidado reforçado, exigências de design seguro por padrão, limites a publicidade direcionada e maior transparência de recomendação de conteúdos.
Na prática, produto e compliance viram áreas siamesas: times de segurança de dados precisarão revisar fluxos de inscrição, idade, consentimento e moderação — inclusive ajustando algoritmos para reduzir alçadas a conteúdos nocivos e elevar rastreabilidade de decisões automatizadas.
Globalmente, o Brasil se alinha a tendências do Reino Unido (Online Safety Act) e da UE (DSA), elevando o sarrafo regulatório regional. O recado ao ecossistema é simples: “move fast” agora inclui governança, documentação e mensuração de risco.
Meta freia contratações após caça a talentos
Depois de meses roubando engenheiros de rivais, a Meta anunciou a suspensão temporária das contratações em sua divisão de IA. O gesto reflete tanto um sinal de saturação quanto um possível reposicionamento estratégico: não se trata de falta de recursos — a Meta continua altamente lucrativa —, mas de uma necessidade de organizar os times e alinhar prioridades antes de expandir ainda mais.
Esse movimento revela um dilema das big techs na corrida pela IA: a disputa por cérebros não garante, por si só, vantagem competitiva sustentável. O valor real virá da capacidade de integrar equipes, alinhar objetivos e transformar pesquisa em produtos escaláveis.
Para o mercado, a pausa da Meta indica que a era do crescimento desenfreado pode dar lugar a uma fase de consolidação e maturidade, em que eficiência e foco importam mais que volume.
Chips e a nova corrida industrial
A Axelera AI, fabricante de chips apoiada pela Samsung, busca levantar US$ 150 milhões em uma nova rodada de investimentos. A disputa por semicondutores especializados em IA não é apenas uma batalha tecnológica: trata-se de uma corrida geopolítica pela próxima geração da infraestrutura digital. C
Chips como os da Axelera podem se tornar peças centrais na competição entre Estados Unidos, Europa e Ásia pela soberania em IA, dado que quem controla os chips controla a velocidade da inovação.
Esse movimento tem efeitos de longo prazo na indústria e na sociedade. Mais poder computacional significa IA mais acessível, presente em smartphones, eletrodomésticos, veículos e processos industriais.
O mercado de chips para IA, portanto, não é apenas um negócio bilionário: é a base material que determinará quem dita as regras do futuro digital.