Google Ataca a Nvidia, Novelas Verticais Explodem, Híbridos Estratégicos da Volkswagen e a Era das Demissões por IA
Bom dia! Hoje é 27 de novembro. Neste mesmo dia, em 1895, Alfred Nobel assinava seu testamento criando o Prêmio Nobel, voltado a reconhecer descobertas capazes de transformar o mundo.
Curioso notar como, mais de um século depois, seguimos premiando não indivíduos, mas plataformas, algoritmos e tecnologias que redefinem a própria estrutura da economia global.
Google x Nvidia: o primeiro grande abalo no reinado dos chips de IA
O domínio da Nvidia sempre pareceu intransponível: a maior produtora em um mercado pouco diversificado, altíssimo desempenho e um ecossistema fechado que tornou seu modelo de programação praticamente um idioma obrigatório na IA moderna.
Mas quando a demanda é excessivamente superior a oferta, o mercado responde. O Google decidiu romper com este cenário com sua promessa de novos aceleradores - os Tensor Processing Units (TPU) -, que combinando arquitetura própria, integração com a nuvem e custos mais previsíveis, começam a deslocar parte da demanda antes concentrada na Nvidia (com promessas de acordos bilionários com a Meta e a Anthropic).
Esse movimento tem impacto profundo no mercado. O oligopólio da do hardware para IA - hoje um tripé formado por Nvidia, AMD e, em menor grau, Intel - é pressionado por um player com capacidade de verticalizar tudo: chips, data centers, agentes e distribuição. A entrada agressiva do Google força uma reorganização na geopolítica da computação.
O que emerge deste cenário, porém, vai além de uma simples disputa por fatia de mercado. O Google se posiciona como o único super player capaz de oferecer a cadeia completa para o desenvolvimento de IA: os chips TPU em sua infraestrutura, o modelo Gemini como software de ponta, os dados coletados pelo Chrome fornecendo inteligência sem paralelo, e uma rede de distribuição que alcança bilhões de usuários.
Enquanto seus concorrentes precisam montar parcerias complexas ou depender de terceiros em pontos críticos, o Google controla praticamente todo o fluxo - da geração de dados até a entrega final do serviço.
A ascensão das novelas verticais: o streaming agora disputa minutos
O formato das novas novelas verticais, com episódios de um minuto, estética de TikTok e narrativa acelerada, não são apenas uma inovação estética. São uma resposta direta ao colapso da atenção tradicional.
A Globo, ao lançar “Tudo por uma Segunda Chance”, reconhece que o conteúdo seriado não precisa mais ser assistido no sofá: ele precisa caber na palma da mão, no intervalo do almoço ou na fila do metrô. Estamos diante de uma reconfiguração completa da dramaturgia como produto de consumo rápido, circular e compartilhável.
A implicação econômica é ainda maior. As novelas verticais criam uma nova fronteira para publicidade nativa, shoppable content e integração com plataformas sociais. Se o streaming tradicional consolidou um modelo de “maratonas”, o vertical inaugura a lógica dos “micro-momentos monetizáveis”.
A Globo, ao entrar no jogo, tenta recuperar soberania narrativa sob uma geração dominada pelo TikTok, Reels e Kwai. Mas há uma precaução: quanto mais o conteúdo se adapta à lógica algorítmica, mais ele corre o risco de perder densidade cultural, cedendo ao imediatismo das plataformas que monetizam velocidade, não profundidade.
Volkswagen aposta nos híbridos para ressuscitar a marca Scout
A Volkswagen decidiu reviver a marca Scout - uma lendária série de veículos utilitários dos anos 1960-1980, conhecida por robustez e versatilidade - com foco em veículos híbridos, não 100% elétricos.
Esse movimento diz muito sobre o real estado do mercado automotivo: o hype dos elétricos enfrenta limites como infraestrutura insuficiente, redes de recarga caras, e baixa adesão de um consumidor que não quer depender da volatilidade energética. Os híbridos surgem então como a “terceira via” pragmática: menos emissão, autonomia ampliada e custo mais previsível. Para mercados vastos e dispersos como EUA e Brasil, essa solução faz mais sentido do que a eletrificação total.
Essa escolha também tem implicações geopolíticas. O domínio chinês nas baterias e na produção de veículos elétricos cria um cenário em que depender totalmente de EVs significa ceder soberania industrial. Ao apostar nos híbridos para revitalizar uma marca icônica americana, a Volkswagen sinaliza um movimento de resistência ao monopólio asiático da cadeia do lítio.
Mas há uma camada ainda mais profunda nessa estratégia. A Volkswagen não está simplesmente escolhendo entre duas tecnologias, ela está reconhecendo que o futuro da mobilidade será plural e híbrido (no sentido literal e estratégico).
Ao revitalizar o Scout como símbolo dessa transição, a empresa recupera uma marca que representa independência, adaptabilidade e durabilidade; valores que ressurgem como críticos em um mundo de cadeias de suprimento fragmentadas e incerteza energética.
HP demite 6 mil trabalhadores: quando a IA deixa de ser ferramenta e vira reestruturação permanente
A HP anunciou que vai demitir cerca de 6 mil funcionários até 2028, justificando a decisão pela adoção crescente de IA e automação. Não é mais o movimento clássico de redução de custos: é a institucionalização de um novo modelo operacional.
A IA cada vez mais deixa de ser “apoio à produtividade” e passa a ser “substituição direta de mão de obra qualificada”. Estamos vendo o início da automação de funções cognitivas repetitivas: atendimento, suporte técnico, áreas administrativas, marketing e até engenharia de baixa complexidade.
O impacto social é profundo. A promessa de que a IA “criaria mais empregos do que destruiria” é cada vez mais revisitada com ceticismo. O modelo que se desenha é o de empresas mais enxutas, com times ultraqualificados gerindo máquinas que fazem o trabalho braçal intelectual.
A HP não é exceção - é o padrão que será copiado nos próximos anos. Gigantes como Amazon e Microsoft também demitiram centenas de funcionários neste ano, ambas alegando reestruturação e priorização em IA. Esses números não refletem recessão econômica, mas deliberação estratégica: o capital humano deixa de ser fator de produção central.
Opiniões como as de Elon Musk e Yuval Harari já alertam para um futuro em que a maioria da população se torna economicamente “inútil”, um conceito que Harari explora em seus escritos sobre automação cognitiva. A resposta proposta por alguns desses pensadores passa por sistemas como renda básica universal, mas a implementação política e o financiamento dessa rede de proteção social permanecem em aberto.
Sem políticas robustas de requalificação massiva, educação contínua e redistribuição de renda, a automação cognitiva pode se tornar não apenas o maior motor de desigualdade da era pós-industrial, mas também a maior fonte de instabilidade social da história humana.






