GLP-1: o hormônio que pode transformar indústrias inteiras
Como Ozempic e os novos remédios de emagrecimento estão mudando o mundo.
Há 2 anos eu venho postando e comentando sobre o impacto do Ozempic nos mercado e chamando a atenção de líderes de negócios. Esse produto não é só um medicamento, é um “disruptor de consumo", com potencial de transformar indústrias inteiras.
O remédio que muda tudo
Como disse, há pelo menos dois anos venho apontando como o efeito Ozempic pode transformar diferentes mercados. A adoção em larga escala de medicamentos à base de GLP-1, como Ozempic e Wegovy, tem alterado significativamente os padrões de consumo alimentar. Agora, os dados estão começando a confirmar essa tendência.
Um estudo realizado nos EUA analisou o comportamento de compra dos consumidores seis meses após o início do uso de medicamentos GLP-1 e revelou quedas expressivas no consumo de diversas categorias de alimentos:
Chips e outros snacks salgados: -11,1%
Panificação doce (ex: bolos, croissants): -9,0%
Queijos: -7,2%
Cookies: -6,7%
Refrigerantes: -6,6%
Carnes e carnes congeladas: -5,8%
Manteiga: -5,8%
Pães e massas refrigeradas: -5,6%
Sorvetes e chantilly: -5,5%
Leite fresco e creme de leite: -4,7%
Esses números evidenciam um impacto real e duradouro nos hábitos de consumo. A pergunta agora é: quais setores serão mais afetados e como o mercado reagirá?
O Efeito Dominó: Indústrias que sentirão o impacto
A mudança no consumo não afeta apenas os supermercados. O impacto vai muito além, atingindo toda a cadeia produtiva, desde agricultores e fabricantes até redes de restaurantes e empresas de logística. Vamos explorar algumas das indústrias que já começam a sentir os efeitos:
1. Indústria Alimentícia
A queda na demanda por produtos ultraprocessados, ricos em gorduras e açúcares, coloca pressão sobre gigantes do setor como Nestlé, Mondelez, PepsiCo e Unilever. Empresas que tradicionalmente faturam bilhões com snacks, doces e refrigerantes precisarão reavaliar suas linhas de produtos para oferecer opções mais saudáveis e adaptadas à nova realidade.
2. Varejo e Supermercados
Se consumidores compram menos alimentos ultraprocessados, redes de supermercados também precisam se adaptar. Algumas tendências emergentes:
Maior espaço para produtos low-carb e ricos em proteínas.
Redução do estoque de produtos tradicionais que perdem demanda.
Mudança na estratégia de precificação e promoções.
3. Agricultura e Pecuária
Com o consumo reduzido de carnes e laticínios, pecuaristas e produtores de leite podem enfrentar desafios significativos. Países como Brasil, EUA e Argentina – grandes exportadores de carne bovina – precisarão diversificar sua produção para atender novas preferências do consumidor global.
4. Restaurantes e Fast Food
Redes de fast food, como McDonald's, Burger King e KFC, podem ver queda nas vendas de seus principais produtos. Nos EUA, algumas redes já começaram a experimentar menus mais saudáveis para atender essa nova demanda, enquanto outras investem em porções menores ou reformulam receitas.
5. Indústria Farmacêutica
O efeito inverso ocorre para as empresas farmacêuticas. Com a expansão dos medicamentos GLP-1, players como Novo Nordisk e Eli Lilly veem um crescimento exponencial na receita. No Brasil, com a queda da patente do Ozempic em 2026, o mercado será inundado por versões genéricas, tornando esses medicamentos ainda mais acessíveis.
Mas afinal, o que é GLP-1?
O GLP-1 (glucagon-like peptide-1) é um hormônio produzido naturalmente pelo intestino em resposta à ingestão de alimentos. Ele desempenha um papel crucial na regulação do metabolismo, pois:
Estimula a liberação de insulina pelo pâncreas quando há glicose no sangue.
Reduz a produção de glucagon, um hormônio que eleva os níveis de glicose no sangue.
Retarda o esvaziamento gástrico, fazendo com que a comida permaneça mais tempo no estômago e promovendo uma sensação prolongada de saciedade.
Atua no cérebro, reduzindo o apetite e influenciando o comportamento alimentar.
GLP-1 e o Ozempic
O Ozempic (semaglutida) é um medicamento que imita a ação do GLP-1, mas com um tempo de ação muito mais longo. Ele foi desenvolvido originalmente para o tratamento do diabetes tipo 2, ajudando a regular a glicemia de forma mais eficiente. No entanto, seus efeitos na saciedade e na redução do apetite fizeram com que também fosse adotado para emagrecimento, o que impulsionou sua popularidade.
Além do Ozempic, outros medicamentos à base de GLP-1 incluem o Wegovy (versão da semaglutida aprovada especificamente para obesidade) e o Mounjaro (que combina GLP-1 e GIP, outro hormônio relacionado ao metabolismo).
Esses fármacos estão transformando o mercado da saúde, com impacto não só na medicina, mas também na indústria alimentícia e no mercado de consumo, à medida que reduzem a necessidade de ingestão calórica.
Implicações e Reflexões para o Futuro
O que acontece com os pequenos produtores? Agricultores familiares e pequenos produtores que dependem da venda de laticínios e carne podem ser os mais impactados. Como garantir que essa mudança não gere desemprego massivo?
A resposta da indústria alimentícia: As empresas líderes do setor conseguirão reformular seus produtos a tempo para atender essa nova realidade?
O futuro da alimentação: Se os consumidores estão comendo menos processados e gorduras, qual será a próxima tendência alimentar que dominará os mercados?
Conclusão
O efeito Ozempic é mais do que uma moda passageira: é uma mudança estrutural no consumo global. O impacto dessas alterações já pode ser sentido em diversas indústrias, e a tendência é que esse movimento só cresça à medida que os medicamentos GLP-1 se tornem mais acessíveis e amplamente utilizados.
Empresas que não se adaptarem correm o risco de perder relevância. Já aquelas que enxergam a mudança como uma oportunidade de inovação, desenvolvendo produtos e serviços alinhados à nova realidade, podem sair na frente e conquistar um novo mercado em expansão.
Qual sua visão?
Como você enxerga o impacto dessa mudança? Você já percebe essa tendência no seu dia a dia? Vamos discutir nos comentários!
Não vejo com esse alarde todo. No meu caso fiz bariátrica e como de tudo. Claro que como uma quantidade menor, mas que as empresas vão precisar reformular produtos e desemprego massivo acredito que não chega a tudo isso já que o ponto principal chama-se cérebro. O Ozempic trata apenas o resultado e não a causa que nos faz comer estas coisas como a ansiedade por exemplo.
A despeito de toda onda de otimismo, existem estudos conflitantes sobre a perda de massa magra e suas possíveis repercussões. Ademais, não são poucos os casos de efeitos adversos que tentam esconder na conta dos análogos se GLP-1 como hepatite e pancreatite.