DeepSeek Barateia IA, OpenAI VS Big Techs, Trump Mira Hollywood, Anthropic Codando e Brasil Ficando para Trás?
Bom dia! Hoje é 30 de setembro de 2025. Nesta mesma data, em 1452, Gutenberg completava a primeira impressão da Bíblia em sua prensa móvel — um marco que não só democratizou o acesso ao conhecimento, mas redefiniu poder político na Europa. Hoje, a disputa pelo controle da informação e da tecnologia também move impérios, só que em escala digital: modelos de IA, políticas industriais e estratégias nacionais reconfiguram quem dita as regras do século XXI.Guerra Fria Tecnológica: DeepSeek e a Nova Arquitetura do Poder Digital
Guerra Fria Tecnológica: DeepSeek na Frente das IA Chinesas
A China, por meio da DeepSeek, apresentou um modelo de atenção esparsa que reduz pela metade o custo operacional de APIs. Trata-se de um salto técnico que transcende a mera eficiência: é a pavimentação de um caminho rumo à democratização da IA sob liderança chinesa.
Em termos estratégicos, a diminuição de custos permite à China expandir sua influência em mercados emergentes, oferecendo soluções competitivas que podem replicar o efeito Huawei no 5G. A tecnologia, nesse contexto, torna-se instrumento de diplomacia e de projeção de poder.
Para os Estados Unidos, o episódio reabre uma questão histórica: até que ponto o império americano pode confiar unicamente no dinamismo corporativo das Big Techs para sustentar sua hegemonia?
Se a China centraliza esforços em um modelo estatal-corporativo coeso, Washington permanece dividido entre interesses privados e imperativos nacionais. A DeepSeek, portanto, não é apenas um competidor tecnológico, mas o símbolo de uma nova guerra fria digital, onde o monopólio da inovação equivale ao monopólio da própria soberania informacional.
OpenAI contra Google e Amazon
A OpenAI anunciou um sistema de compras agentivo que desafia diretamente o domínio da Amazon e do Google. A proposta é simples na superfície, mas transformadora em essência: permitir que agentes de IA conduzam processos inteiros de aquisição, desde a busca de produtos até a finalização da compra.
Em termos mercadológicos, essa inovação representa a transição do modelo “busca e clique” para o paradigma “delegação total”, no qual o consumidor transfere ao algoritmo a prerrogativa da escolha.
A implicação é profunda: se a OpenAI conseguir intermediar fluxos comerciais, passa a capturar dados transacionais e padrões de consumo que até então pertenciam a Google e Amazon. Isso reconfigura cadeias de valor do e-commerce e inaugura uma disputa não apenas de mercado, mas de controle sobre a infraestrutura de recomendação.
Em última instância, quem dominar a IA agentiva deterá um poder similar ao que o Google conquistou com o PageRank nos anos 2000 — um filtro quase absoluto de preferências digitais.
Porém, há riscos inerentes. A delegação da decisão de compra a sistemas opacos pode conduzir à homogeneização (e terceirização) de consumo, reforçando marcas que melhor se integrarem ao ecossistema.
Além disso, cria-se uma vulnerabilidade regulatória: se agentes de IA determinam o que adquirimos, como garantir a neutralidade da curadoria? A disputa entre OpenAI, Google e Amazon, portanto, transcende a mera competição empresarial, trata-se de quem se tornará o arquiteto invisível do consumo global.
Trump e a Retomada do Cinema Protecionista
Donald Trump ameaçou impor uma tarifa de 100% sobre filmes estrangeiros, gesto que, à primeira vista, pode parecer mera retaliação cultural. Contudo, analisado em seu contexto mais amplo, o episódio representa a materialização de uma política nacionalista de reindustrialização e repatriação produtiva.
O cinema, aqui, não é apenas entretenimento, mas um símbolo estratégico da disputa pela identidade e pelo capital cultural.
Desde o resgate da Intel até a tentativa de trazer indústrias críticas de volta ao solo norte-americano, observa-se uma verticalização da estratégia trumpista: blindar cadeias produtivas, reforçar campeões nacionais e reduzir a vulnerabilidade aos fluxos globais.
O ataque ao cinema estrangeiro sinaliza que a política protecionista não se limitará a semicondutores ou manufatura, mas se expandirá à própria economia simbólica, onde narrativas são tão valiosas quanto chips.
A mensagem ao mundo é inequívoca: a soberania cultural e industrial será defendida mesmo à custa de tensões internacionais. No longo prazo, isso pode consolidar os EUA como império nacional verticalizado, em contraste com a China, cujo protecionismo é exercido sob controle estatal total.
Anthropic e o Salto da Autonomia Computacional
A Anthropic revelou que seu novo modelo de IA é capaz de programar sozinho durante 30 horas ininterruptas. O anúncio tem valor histórico, pois representa a transição da IA como mera ferramenta assistiva para uma fase de autonomia operacional prolongada.
O que antes demandava supervisão humana constante passa, agora, a poder ser delegado por longos ciclos, com impactos diretos em produtividade e custos de desenvolvimento.
Do ponto de vista tecnológico, esse feito equivale a criar um “turno adicional” de trabalho sem fadiga, sem erro humano e sem interrupção. Para empresas de software, isso inaugura uma era de produção contínua, na qual o capital humano passa a ser complementado por ciclos de IA que operam em paralelo.
Em termos econômicos, a vantagem competitiva de quem adotar tais modelos pode ser avassaladora, reconfigurando a geografia da indústria de software e deslocando empregos humanos para funções de supervisão estratégica.
Entretanto, a autonomia prolongada levanta questões críticas. Se a IA pode programar durante 30 horas seguidas, quem garante que a direção de seu raciocínio não alucinará e permanecerá alinhada aos objetivos iniciais? Há um risco intrínseco de desvio de propósito, bugs multiplicados em escala e, sobretudo, opacidade sobre processos internos.
A Anthropic, portanto, não apenas inaugura um novo patamar técnico, mas também expõe a urgência de regulamentação e protocolos de segurança para sistemas capazes de operar sem intervenção humana imediata.
Brasil: Oportunidade Perdida?
A eleição da JBS, pelo quarto ano consecutivo, como a melhor empresa do setor de alimentos é um lembrete paradoxal do potencial brasileiro. De um lado, evidencia a capacidade de gerar corporações globais competitivas; de outro, revela como o país permanece preso a setores primários, deixando de capturar valor em cadeias de tecnologia avançada. O agronegócio prospera, mas a economia digital ainda carece de um plano nacional coeso.
Se o Brasil fosse capaz de articular um projeto tecnológico soberano, integrando pesquisa, indústria e Estado, poderia alavancar vantagens únicas: abundância energética, mercado consumidor vasto e posição estratégica nas cadeias globais.
No entanto, a ausência de visão política de longo prazo perpetua a dependência de inovações externas. Enquanto China e EUA disputam a primazia da IA, o Brasil ainda debate reformas fiscais e marcos regulatórios fragmentados.
A lição é clara: sem planejamento tecnológico estatal, as empresas brasileiras permanecerão limitadas a setores onde já possuem vantagem comparativa, mas incapazes de disputar protagonismo em áreas críticas como semicondutores, inteligência artificial ou biotecnologia. A JBS é um caso de sucesso empresarial, mas também um espelho incômodo de um país que, sem estratégia digital, pode se contentar em ser potência agrícola quando poderia ser potência tecnológica.