Austrália proíbe redes sociais para jovens: cuidado ou falta de liberdade?
A Austrália prometeu e cumpriu. O país bloqueou o acesso de menores de 16 anos às redes sociais. A regra começou a valer ontem e todas as contas fora da idade permitida foram simplesmente excluídas. É um movimento histórico: a primeira democracia do mundo a impor um banimento desse tamanho.
A decisão, claro, divide opiniões. Para alguns, é uma medida necessária para proteger jovens cada vez mais viciados em telas. Para outros, é um ataque direto à liberdade individual, um precedente perigoso de intervenção estatal no comportamento digital das pessoas. Entre um extremo e outro, surge a dúvida real: isso é cuidado ou é controle?
Responder não é simples. Estudos sérios mostram os efeitos psicológicos do uso excessivo das redes – ansiedade, comparação social, distorção de autoestima. Mas isso basta para justificar um corte tão radical? Ou o alvo deveria ser outro: pressionar as empresas a redesenhar seus produtos, seus incentivos e seus algoritmos?
“Não mate o mensageiro” é uma frase antiga e extremamente aplicável aqui. Diante de uma notícia ruim, atacamos quem a trouxe, não a causa real. O erro clássico de mirar na superfície e ignorar a estrutura. Estamos punindo o usuário ou estamos evitando enfrentar o verdadeiro problema?
Porque todos sabem o que as redes são, de fato. Plataformas desenhadas para gerar picos de dopamina. Para criar hábito, dependência e recorrência. Quanto mais você usa, mais você quer. Quanto mais você quer, mais valioso você se torna para o modelo de negócios. Isso não é bug, é o core da lógica.
A pergunta, então, deixa de ser “devemos proibir?” e passa a ser outra, muito mais profunda: o problema está no comportamento do jovem ou na arquitetura das plataformas? É legítimo impedir o acesso ou deveríamos questionar por que, desde o começo, fomos chamados de “usuários” e não de “clientes”?
Quando alguém é cliente, você presta um serviço. Quando alguém é usuário, você o mantém engajado. O primeiro compra um produto. O segundo é o produto.
A Austrália tomou uma decisão forte. O debate que se abre agora é ainda mais forte. Talvez este seja o início de um novo capítulo sobre responsabilidade tecnológica, liberdade no ambiente digital e os limites do design que molda nossas vidas. Talvez seja só o começo de um ajuste que o mundo inteiro terá de enfrentar.



