A Nova Ordem Mundial no Setor de Pagamentos
A indústria de pagamentos vive um momento de ruptura que redefine fronteiras e parcerias. No centro dessa transformação está o anúncio do PayPal World, uma plataforma global que promete integrar carteiras digitais e sistemas de pagamento regionais em um único ecossistema.
Com lançamento previsto para o último trimestre de 2025, o PayPal World começará conectando o próprio PayPal e o Venmo aos grandes players locais, como o Mercado Pago na América Latina, a NPCI na Índia e a Tenpay Global na China. Essa arquitetura open‑API visa ampliar a interoperabilidade, permitindo que usuários façam compras em sites estrangeiros usando sua carteira local, reduzindo custos e complexidades de transferências internacionais.
Em paralelo, emerge uma nova ordem mundial em pagamentos instantâneos, simbolizada pelo Pix no Brasil. Lançado em 2020 pelo Banco Central, o Pix atingiu 76% da população brasileira, oferecendo transferências gratuitas e imediatas, 24/7, incluindo áreas remotas da Amazônia.
Contudo, essa conquista nacional virou ponto de discórdia quando, em julho de 2025, o governo dos EUA, sob o comando de Donald Trump, iniciou uma investigação comercial alegando que o Pix discrimina empresas americanas. Essa ofensiva foi amplamente vista como reação de gigantes como Mastercard, Visa e Meta, que sentem a concorrência de uma solução pública, eficiente e de baixo custo.
O impacto dessa disputa reverbera diretamente nas empresas americanas de pagamentos. A investigação de Washington não apenas coloca em xeque um dos projetos mais bem-sucedidos de inclusão financeira, mas também sinaliza um receio de que plataformas regionais, muitas vezes apoiadas por políticas estatais, possam corroer as margens de lucro de players privados.
Segundo análises da American Banker, o PayPal World chega num momento em que a pressão por interoperabilidade cresce, mas também desafia a predominância dos sistemas consolidado nos EUA, forçando Visa e Mastercard a repensarem suas estratégias globais ou mesmo a buscarem alianças com iniciativas abertas como o Pix.
Enquanto isso, a liderança chinesa em tecnologia de pagamentos consolida-se como um terceiro polo estratégico. Na China, mais de 968 milhões de indivíduos utilizam ativamente soluções como Alipay e WeChat Pay, atingindo penetrações de 92% e 85%, respectivamente – muito acima da média global de mobile wallets.
A inclusão da Tenpay Global (Tencent) como parceira inicial do PayPal World reforça a relevância dessa expertise: não se trata apenas de volume, mas de um know‑how em integração de QR Codes, sistemas de recompensas e até projetos de moeda digital de banco central (CBDC). É a tecnologia chinesa que dita padrões de usabilidade e segurança, e agora exporta esse modelo para além de suas fronteiras.
O mosaico de movimentações – do PayPal World ao Pix e à expansão chinesa – revela uma reconfiguração geopolítica: o domínio americano, até então hegemônico no setor de pagamentos, é contestado por modelos públicos e por ecossistemas privados altamente escaláveis. Estima‑se que o mercado global de pagamentos transfronteiriços alcance US$ 290 trilhões até 2032, com um CAGR de 7,1%.
Nesse cenário, plataformas abertas e interoperáveis, capazes de absorver carteiras regionais, podem capturar fatias significativas desse mercado, reforçando a tese de que a verdadeira nova ordem mundial se constrói pela colaboração entre grandes polos, em vez do isolamento competitivo.